JORNAL DA RECORD: Grupo terrorista arrecada a equivalente R$200 milhões em criptomoedas para financiar ataques

O especialista em Direito Digital e Crimes Cibernéticos, José Milagre, participou em 20/10/2023 do Jornal da Record, em matéria especial sobre a arrecadação de criptomoedas por grupos terroristas.

 

É possível rastrear titulares e grupos que utilizam criptomoedas?

Rastrear a origem exata dos titulares de criptomoedas envolve muitos pontos a serem observados, já que envolve toda uma questão de segurança e privacidade de dados. Normalmente transações de criptomoedas são armazenadas em um blockchain, que mesmo sendo de acesso público, ainda sim mantém as identidades de seus titulares de forma oculta.

Sendo objetivo, sim é possível rastrear titulares responsáveis pelas transações de criptomoedas. A identificação é realizada por empresas especialistas em análise forense de blockchain, Exchanges de criptomoedas e Agências Governamentais.

Em consideração, é importante ressaltar que qualquer questão que envolva a privacidade é um direito fundamental. Tentar rastrear a origem e transições de titulares de criptomoedas sem que ocorra uma situação específica que esteja ligada a investigações criminais ou questões regulatórias, é totalmente ilegal. É importante respeitar a privacidade de dados pessoais, e seguir as leis aplicáveis.




Golpe que promete alta rentabilidade em Bitcoins

Tem crescido o golpe digital das falsas “trade forex, binary e cryptocurrencies”, no qual os bandidos digitais monitoram redes sociais e grupos de investidores e fazem amizade ou contato com potenciais vítimas para aplicar o golpe. Comumente chegam às vítimas preferenciais com base em postagens das próprias “presas”, que indicam se elas possuem algum patrimônio ou valor a investir. 

Aí vem a “engenharia social” ou a arte de “enganar pessoas”, os criminosos, fazem um contato com a vítima, prometendo altíssima rentabilidade para seu dinheiro. Para tanto, conduzem a vítima a criar uma conta em uma corretora de bitcoins e comprá-los. Neste momento, para ganharem confiança, pedem que a pessoa acesse o “site” da corretora, que é um site falso, e a induzem a criar uma conta e depositar apenas um pequeno valor para ver a rentabilidade. Assim é feito, em questão de dias os valores em bitcoins rendem 5 a 10% na “conta virtual”, o que “desarma” o investidor, fazendo com que este transfira grandes quantias de criptomoedas para a corretora falsa.

Assim, os criminosos mantêm o painel por aproximadamente 30 (trinta) dias, com simulações falsas de rentabilidade. As vítimas demoram até 60 (sessenta) dias para descobrirem e só percebem quando solicitam o “resgate do investimento”. Então, começam as desculpas, as evasivas, até que chega um momento em que a corretora simplesmente some, para de responder, tira o site do ar (site, aliás, registrado anonimamente) e o golpe se consuma.

Geralmente, a vítima tem pouquíssimos registros, não consegue mais acesso ao seu “painel administrativo” no site falso da corretora e pode ter apenas alguns prints dos endereços de destino dos bitcoins, registrados na sua própria corretora.

É possível investigar e rastrear o dinheiro, porém, não significa necessariamente saber quem está por trás de uma carteira eletrônica. Isso vai depender da cooperação da exchange, wallets e aplicações. Não é um procedimento simples e rápido e pode envolver outros continentes. A recomendação para quem é vítima é preservar todas as mensagens e contatos recebidos e imediatamente buscar apoio para apuração da identidade dos fraudadores. Ainda que o número de WhatsApp usado para mensagens pelo fraudador seja internacional, a rede guarda registros de aplicação, o que pode indicar pessoas do Brasil, apenas usando um número internacional para dificultar a apuração da autoria.

O golpe tem se mostrado extremamente eficaz tendo em vista o momento ruim dos investimentos no Brasil, sobretudo em renda fixa, onde pessoas físicas buscam alternativas na Bolsa de Valores e nas Criptomoedas.

Para não se tornar mais uma vítima, basta uma simples pesquisa no Google para se ter uma dimensão se a corretora tem boa reputação ou é um scammer (qualquer esquema ou ação enganosa e/ou fraudulenta que, normalmente, tem como finalidade obter vantagens financeiras). Um site muito útil é o https://www.scamadviser.com/ responsável por checar qualquer site indicado e pode informar se trata de um site confiável ou não, muitas vezes indicando se o site oferece serviços de criptomoedas de alto risco. Se o risco apontado pelo ScamAdviser for alto, fuja! E mais uma dica: jamais revele seus investimentos em redes sociais!